Apercebi-me no outro dia (qual descoberta da pólvora) que o meu dia é cheio de dilemas. Sempre ouvi dizer que a vida é feita de escolhas, claro, mas nunca tinha pensado mesmo nas mais rídiculas escolhas que tenho que fazer todos os dias. O que me leva a pensar na quantidade de universos alternativos que poderiam existir à volta das hipóteses que não segui.
Logo quando o despertador toca começam os dilemas: acordar logo ou carregar no repetir e acordar passados cinco minutos? Em regra, ganha a segunda opção. Again and again and again. Dilema seguinte: ir ou não ir ao ginásio? Depende sempre das horas a que consigo acordar, do trabalho planeado para esse dia. Se não vou, o dilema seguinte é ver os e-mails enquanto tomo o pequeno-almoço, e perder mais tempo, ou tomar o dito na cozinha, a correr? Mesmo a definição dos ingredientes do pequeno-almoço é outro dilema: só café; café, iogurte e cereais, ou vou à padaria e tomo um verdadeiro pequeno-almoço? Normalmente ganha o que for mais rápido. Se vejo os e-mails do escritório, outro dilema: respondo logo ou espero até chegar ao escritório?
Depois a escolha da roupa para esse dia. Este é dos dilemas cuja decisão é mais difícil. Como sou friorenta e tenho um ar de miúda, o esforço máximo é encontrar roupa que sirva vários objectivos diferentes: manter-me quente no escritório enquanto enfrento os diversos ares condicionados dos colegas e, se estamos no verão ou na primavera, essa mesma roupa tem que ser leve o suficiente para eu não assar na rua, ao mesmo tempo que tem que ser séria q.b. para um dia de escritório sem parecer que roubei o fato da minha mãe.
Depois o cabelo: liso ou aos caracóis, apanhado ou solto, rabo de cavalo ou ganchos, lavo ou aguenta mais um dia, se lavo, seco ou não?
Depois a cara: pinto ou não? Normalmente não...
A seguir o que vai ser o meu almoço? Levo o resto do jantar e almoço no escritório, ou vou almoçar fora? Depende do que foi o jantar e do estado das finanças. Mas decidir isto de manhã dá-me sempre uma volta ao estômago...
E estes são os dilemas que me coloco mesmo antes de sair de casa.
Não é de admirar que quando, ao fim do dia, o meu amor me pergunta "o que queres jantar" a resposta seja sempre "o que tu quiseres".