Nunca mais cozinhava sob pressão.
Nunca mais engomava.
Nunca mais passava dias em modo vileda.
Nunca mais acordava com despertador.
Nunca mais passava mais de um mês no mesmo sítio.
Teria alguém que me fizesse o pequeno-almoço todos os dias.
Nunca mais releria livros por necessidade, apenas por prazer.
Nunca mais estudaria o que não me dá gozo.
Faria uma festa todos os meses, ou todas as semanas... Ou todos os dias, o que me apetecesse.
Criaria uma associação para ajudar jovens a estudar o que queriam, a trabalhar no que gostam e a constituir família quando e como quisessem.
Nunca mais guiava por necessidade.
Nunca mais contaria tostões para o café.
Seria mais proactiva a defender aquilo em que acredito.
Não deixaria ninguém que amo passar dificuldades. Acho que também não deixaria aqueles de quem gosto passar dificuldades.
Passaria a comprar presentes para toda a gente todos os dias.
Se calhar dormiria mais sossegada. Mas não seria mais feliz por isso, creio eu. Apenas menos preocupada.
* de notar o requinte de malvadez: não é milionária, é bilionária!
just another manic monday
Hei-de sempre pensar que o ser humano foi feito para mais qualquer coisa do que apenas acordar com despertador, fechar-se num cubículo com ar ambiente pré fabricado, sair ao fim do dia para vir para casa comer e dormir para no dia a seguir acordar com despertador e fazer tudo outra vez, enquanto sonha com as férias, o fim de semana, o euro milhões ou simplesmente o fim do mês.
Hei-de sempre pensar assim. Sobretudo à segunda feira de manhã.
inspiras-me sempre
E quando abri os olhos só vi azul. Um azul lindo, translúcido, azul reflexo de água, cristalino. Mas o reflexo vinha da minha pele, de mim como se eu fosse toda azul por dentro, como se ao invés de sangue e entranhas fosse toda feita de transparências azuis.
E vi que onde a minha pele tocava a tua o azul se tornava luz clara e brilhante, e a cada respiração nossa a luz invadia o azul tornando-nos luz.
Levantei-me. O azul diminuiu mas acompanhava-me nas deambulações matinais, preparativos de dias corridos. Mas cada vez que olhava para ti o azul emergia dos meus poros, reflexo.
Durante o dia o azul foi diminuindo, devagar, entre telefonemas e problemas e questionários e dúvidas e soluções encontradas na pressão da maratona do meu quotidiano. Mas cada vez que olhava para a tua fotografia a minha ligação visceral com este azul fortalecia-se um pouco mais.
Ao almoço as certezas alheias levaram-me o azul quase todo. Foi-me arrancado o azul como se o meu azul fosse cocaína de terceiros. Ao ver escapar-me o meu azul vi crescer as luzes dos egos de outros. Cordão umbilical parasitário, não me conseguia libertar desta exploração não solicitada de mim.
Na casa de banho olhei ao espelho e o azul cresceu de novo. Fechei os olhos, vi a minha imagem e vi o azul a nascer de mim mais e mais forte, maior, sem fim. Quando abri os olhos a minha imagem imaginária respondeu-me com um sorriso. E pensei que extraordinário, estas são as minhas pernas, as minhas mãos. Tudo isto é lindo e é meu e de mais ninguém. Este sorriso é meu, estes olhos são os meus, claros e meus.
Quando cheguei a casa e olhei para ti vi o teu azul a crescer de encontro ao meu.
Num abraço que me pareceu um retorno antigo, fundimos-nos numa luz clara que nos inundou os azuis e explodiu à nossa volta em mil outras cores.
Dúvida
Sou a única pessoa a achar que ouvir músicas deprimentes, ou ver filmes pseudo neuróticos, é uma auto manipulação do nosso estado de espírito? Catártico, para mim, é dar gritos e partir uns quantos bibelots dispensáveis (como canecas...), e não chorar agarrada à almofada a ouvir uma música que foi mesmo escrita para mim agora (mentira, ou foi escrita por um batalhão de pessoas pagas para nos entreter com dores alheias, ou então por uns senhores com dores próprias que não as nossas).
Ou melhor, o que nasceu primeiro; a neura ou a repetição insistente de baladas tão animadoras como as dos Portishead, Jeff Buckley ou Skunk Anansie (Nick Hornby rules, btw)?
P.S.: note-se que até gosto dos senhores
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