Nunca tinha casado, nunca tinha tido filhos, nunca tinha comprado uma casa nem tinha aderido a qualquer health club em busca da vida ideal. Nunca tinha ganho qualquer prémio, nunca tinha tido um salário acima da média e nunca tinha sido promovida a um cargo de sonho. Não tinha imensos amigos nem saía à noite todos os fins-de-semana em serões memoráveis.
Mas era feliz. Tinha a perfeita noção que ela não era nada daquilo que a sociedade exigia como requisitos mínimos de felicidade garantida. Era rechonchuda, tinha celulite, tinha cabelos brancos que não pintava. Não se vestia à moda e raramente comprava roupa nas Zaras deste mundo. E era feliz.
Não ia jantar aos restaurantes badalados que faziam o objecto das descrições animadas dos jantares das suas amigas, não tinha o nome nas guest lists dos bares da moda da capital, não era convidada para as Lisbon Fashion weeks ou afins. Não fazia férias em Courchevel nem na Sardenha. Não era alvo das máquinas dos fotógrafos das revistas cor-de-rosa e ninguém tinha qualquer curiosidade em saber com quem é que ela tinha tido romances fugazes.
E no entanto se alguma vez lhe perguntassem do que sentia verdadeiramente falta, ela responderia com um sorriso sincero, ‘nada’.
Tinha tudo o que queria ter na vida. Sentia-se verdadeiramente abençoada por estar viva. Achava aliás bastante ridículo a maneira como toda a gente andava sempre a correr para ter mais qualquer coisa. Quando alguém lhe contava entusiasmado como tinha comprado aquele gadget do momento, ou como tinha encontrado o homem dos seus sonhos, ou como tinha tido um aumento, ou uma promoção, tinha alguma dificuldade em entender a razão de tanto exaltamento. E sorrindo interiormente, tinha a certeza que quem era verdadeiramente realizada era ela, que comia o que queria, fazia o que queria e não sentia necessidade desses mesmos gadgets, homens de sonhos caducos, aumentos ou promoções.
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