Todos temos um segredo que não contamos. A ninguém. Nunca. Às vezes é qualquer coisa tão simples como qual é o nosso maior sonho, aquele que julgamos inalcançável. Outras vezes são medos antigos, bem enraizados, que cresceram connosco à volta das veias e músculos, tão nossos que parece que não os podemos remover sem cirurgias invasivas e, sem dúvida, dolorosas. As máscaras que usamos são impostas para os esconder, para ninguém ver aquilo de que realmente somos feitos, porque pensamos que se nem nós conseguimos ver de frente os nossos segredos, os outros podem assustar-se e ficamos sós neste mundo frio.
O mais engraçado é que se algum dia confiarmos em alguém, esses segredos serão a melhor coisa que temos a partilhar. Se retirarmos as máscaras, como quem tira as camadas de uma cebola - metáfora fácil - podemos até chegar a descobrir que gostamos muito de quem somos e que não precisamos de ter mais medo. De quem somos mesmo, e não de quem nos fomos tornando para agradar a esse mundo frio que nos deixaria sós caso falhássemos alguma das suas regras e obrigações. O difícil é mesmo confiar em alguém, sobretudo em nós.
E um dos meus maiores segredos é também um dos meus maiores sonhos, inalcançável em absoluto. Adorava saber cantar o que escrevo, alto, bem alto, para uma plateia gigante. Não esconder mais o som da minha voz, as palavras que me enchem a alma e o juízo… Saber conjugar palavras e sons harmoniosos, saber encantar uma plateia. Partilhar com outros o que o meu corpo sente quando escrevo, quando não fujo ao que me sai das mãos, quando sinto sem a consciência aguçada e crítica da vergonha, do aceitável.
Ou seja, sem metáforas, o meu maior sonho é viver sem medo, sem vergonha, sem a limitadora consciência do que os outros esperam de mim, daquilo que devo cumprir, atingir, conquistar, fazer. Sem lutas.
E fazer apenas o que eu quero…
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