waste of time

“Estava tão atrasada, tinha cabeleireiro marcado para as 3 e ainda não tinha tido tempo sequer de ir levantar as calças à lavandaria. Não percebia porque é que a mãe não deixava que a Maria do Céu tratasse dessas coisas, estava lá em casa há imenso tempo, tipo, já podia ter aprendido onde era a lavandaria. Mas porque é que a porta do carro não abria? Que chatice, ter que largar o seu capuccino em cima do carro, ia ficar frio de certeza. Já era altura de trocar de carro, morria de vergonha de andar com aquela traquitana velha, afinal de contas não fazia sentido ter que ir para a faculdade todos os dias com um carro em segunda mão agora, no segundo ano da faculdade, quando todas as suas amigas tinham recebido um carro novinho em folha quando passaram de ano. Além disso a mãe tinha-lhe prometido aquele Mini fantástico descapotável se conseguisse passar de ano, e isso tinha sido há dois meses, mais que tempo. Ok, dentro do carro. Ligou à cabeleireira a dizer que estava atrasada, não que fossem passar outra pessoa à sua frente, não se atreveriam, entre ela, a mãe e as suas irmãs ia lá pelo menos uma todos os dias. Agora ligar ao seu namorado, porque não era normal tê-la deixado plantada à espera dele ontem à noite nos cinemas do centro comercial, rodeada de gente feia e suburbana e a tentar equilibrar-se nas suas botas novas. Tinha ainda que lhe perguntar o que se passava com os seus amigos, parecia que andavam mas não andavam, se calhar não, se pensasse no que a sua amiga tinha andado a fazer este verão, que horror, interrail, de mochila às costas e a dormir sabe Deus onde e, horror dos horrores, sem telemóvel nem cartão de crédito, nem sequer tinha conseguido falar com ela decentemente, só sabia que tinha conhecido umas espanholas, e para piorar o cenário, tinha ido com elas para o sul de Espanha, onde toda a gente sabe que só vai gentinha pobre da Europa que não tem dinheiro para ir para outros sítios. Mais este trânsito, mas que coisa, estava o mundo toda contra ela, bolas, uma unha partida. Ao menos ia para o cabeleireiro, tratava lá disso.”
Enquanto olhava para a unha partida bateu de frente num camião TIR. Nunca chegou ao cabeleireiro.

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