Acordo de manhã todos os dias à mesma hora. Manhãzinha bem cedo. Levanto-me rapidamente ao primeiro toque do despertador. Ponho os chinelos, que deixo sempre à noite bem alinhados ao lado da cama, ao nível onde os meus pés aterram quando me levanto. Visto o roupão estendido sobre a cadeira ao lado da cama, e imediatamente abro a janela. Não sinto o frio entrar pela gola do roupão, através do meu pescoço, chegando até às minhas costas depressa demais. É tudo uma questão de força mental, nada mais. O frio é psicológico.
Faço a cama rapidamente, e olho em volta para me certificar que o quarto fica bem arrumado. Não que seja fácil desarrumá-lo, os poucos pertences que tenho resumem-se a uma cama individual, de metal, uma cadeira de plástico branca, daquelas de jardim, herdada já nem sei de quem, um candeeiro de plástico também ele branco, descartável como qualquer outro produto para consumo das massas, e um mísero despertador digital.
Com passos ordenados vou à cozinha, onde ponho o café a fazer na velha moka dos meus Pais. Abrindo a porta das traseiras encontro pendurado, como é usual, os dois diários papo-secos encomendados semanalmente na padaria da esquina, a 10 cêntimos cada um. Congelo um para o jantar e como o outro, com manteiga, acompanhado de um morno café com leite.
Lavo a loiça e seco-a rapidamente. Tiro para fora o jantar de hoje, sempre para uma pessoa só.
Tomo um duche rápido, não mais que dois minutos, secando-me à toalha propositadamente áspera para acordar. Faço a barba, lavo os dentes, penteio o cabelo e visto o fato azul escuro. Não uso perfume, na minha cabeça isso é coisa de casal, de que nunca fiz parte.
Agarro no telemóvel, nos óculos escuros comprados na promoção do hipermercado, no porta moedas e nas chaves de casa e saio de casa, trancando a porta de imediato.
Dirijo-me com passos rápidos para a paragem do autocarro.
Será que é hoje que algo diferente me acontece?
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