Entrou no autocarro e sentou-se no lugar vago ao lado da janela. Não andava de transportes públicos há muitos anos. Aliás, não andava em terra há muitos anos. Era impressionante pensar que estes monstros citadinos passavam pelo asfalto sem deixar qualquer rasto, como se fosse indiferente à terra o que por ela passava…
Sentiu uma enorme tristeza ao perceber que aqui, neste mar de cimento imenso, parecia que nada deixava marca, era tudo imutável, e até o vento era obrigado a percorrer corredores criados. Talvez fosse por isso que à sua volta via caras pesadas de pessoas cansadas do esforço que devia ser moverem-se sem a ajuda da natureza, perdidos sem guias. Aqui nada se via por cima das montanhas de pedra para além de um enorme cinzento. Aliás, dentro do autocarro só via o próprio reflexo perdido na janela.
Distraiu-se com o barulho incessante de um bebé, divertido com a chupeta, que punha e tirava da boca com ar de desafio, e pensou que talvez houvesse ainda esperança para esta raça estranha de gente citadina, se havia ainda crianças que se conseguiam surpreender a si mesmas, ali fechadas nas paredes escuras de um moderno autocarro condicionado.
Sem comentários:
Enviar um comentário