Na paragem de autocarro, era apenas mais uma velha rodeada de sacos de plástico tão velhos e gastos como ela, alguns apregoando lojas que já tinham fechado há largos anos. De vez em quando a patroa deixava-a usar um dos sacos das lojas chiques onde comprava aquelas roupas de marca, que serviam para o mesmo que serviam as suas, mais coçadas, mas que acabam apenas por ser mais difíceis de lavar…
Tinha sido uma mulher bonita, roliça e de anca fácil. Por gozo e desafio, durante anos tinha assombrado os bêbados das tascas do Bairro Alto meneando a cintura ao som dos seus próprios passos, duros e secos de esperteza saloia e rápida incutida por anos e anos de conselhos maternos.
Cabelos ondulados pretos petróleo, olhos negros e tez alva, tinham-na cantado fadistas de vida escondida e estudantes em busca de prazer inconsequente. Cabelos esses que, outrora compridos, pela cintura, ciganinha de alcunha, há muito passaram a ser frisados, agora a velha usava-os curtos, com ganchos de vários tipos, e assumiam uma cor de burro quando foge, porque o preto não se pode usar para pintar as brancas que espreitavam bem juntinho do crânio. Os olhos, esses mal os via, atrás dos fundos de garrafa escorregadios que em nada ajudavam na luta diária entre os sacos de plástico e o passe social.
Agora sentava-se pesadamente nos autocarros que apanhava para ir para o serviço e para voltar para casa, cansada das pernas pesadas de anos de trabalho árduo mas honesto, sempre honesto. O corpo antes fonte de suspiros e invejas, agora vencia-a nas dores dos reumatismos e artroses.
Mas se parava numa montra, coquete olhava-se de lado, e via a jovem roliça e prazenteira e, velha, meneava a anca num andar que destoava dos sacos de plástico que carregava.
Brutal!
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